Muitas crianças desaparecidas são encontradas umas horas ou uns dias depois, algumas nunca são encontradas. Mas ocasionalmente, o milagre acontece: anos ou décadas depois, uma família reúne-se.
É difícil encontrar estatísticas exatas sobre o número de crianças desaparecidas todos os anos, visto que esse tipo de dados não está disponível em muitos países.
No entanto, estima-se que 460 mil crianças desapareçam todos os anos nos Estados Unidos, e 112 mil no Reino Unido.
Em Portugal, cerca de 1400 crianças são dadas como desaparecidas todos os anos.
O termo “desaparecido” abrange uma variedade de cenários: de crianças que fugiram ou foram sequestradas por familiares ou desconhecidos, até crianças que desapareceram em circunstâncias desconhecidas.
Em alguns casos, como o de uma menina inglesa que desapareceu na Praia da Luz, no Algarve, em 2017, as crianças são encontradas umas horas ou uns dias depois do desaparecimento.
Noutros casos, como o de Maddie, a menina também inglesa que desapareceu na mesma Praia da Luz em 2007, ou de Rui Pedro, o menino que desapareceu em Lousada em 1998, nunca mais são encontradas. Infelizmente, alguns casos de desaparecimento de crianças nunca são resolvidos.
No entanto, por vezes acontece um milagre: quando todas as esperanças pareciam perdidas, uma criança encontra o caminho para casa e reencontra a família décadas depois de ter desaparecido.
Numa altura em que uma jovem polaca alega ser Maddie McCann, o ZAP recorda abaixo seis destes casos.
Melissa Highsmith, 1971-2022
Em 1971, Melissa Highsmith desapareceu de casa quando tinha apenas 1 ano e 9 meses. Tinha sido raptada pela babysitter, que a criou como sua filha, com o nome de Melanie Walden.
A polícia local e as autoridades federais dos EUA investigaram o caso durante anos, sem qualquer resultado, mas a família de Melissa nunca deixou de a procurar, e conduziu buscas próprias para encontrar a filha.
Em setembro de 2022, a família recebeu uma informação anónima de que a filha poderia estar na Carolina do Sul. Melanie não sabia que estava a ser procurada e, ao ser contactada através do Facebook por membros da família, inicialmente achou que se tratava de uma burla online.
Mas em novembro, um teste de ADN cruzado no 23AndMe estabeleceu ligações entre os filhos de Melanie e a família Highsmith – confirmando que se tratava de Melissa.
Mais de 50 anos depois de ter sido raptada, Melissa reencontrou os pais no dia 26 de novembro. Em entrevista à CBS, confessou: “É algo impressionante. Ao mesmo tempo, é a sensação mais maravilhosa do mundo.”
Melanie pretende voltar a chamar-se Melissa e quer casar novamente com o atual marido, para que o pai, Jeffrie Highsmith, a possa acompanhar ao altar.
Li Jingwei, 1989-2021
Em 1989, Li Jingwei tinha apenas quatro anos quando um vizinho o raptou e o levou da sua vila, na província chinesa de Yunnan, para o vender a uma rede de tráfico de crianças. Apesar do início trágico, esta é uma história com um final feliz, 32 anos depois.
O jovem chinês conseguiu reencontrar a família depois de desenhar um mapa da sua vila com base nas memórias que ainda retinha dos poucos anos que lá viveu.
Depois de partilhar a imagem no Douyin — como o TikTok é conhecido na China — em dezembro de 2021, esperou por uma resposta.
“Sou uma criança à procura da sua casa“, dizia Li no vídeo. Apesar de não se conseguir lembrar do seu nome de nascimento ou do da sua aldeia, as suas memórias sobre uma escola, uma floresta de bambu e um lago foram suficientes para identificar o local.
A polícia descobriu depois que o mapa correspondia a uma vila em Yunnan onde havia um caso de uma mulher cujo filho tinha desaparecido. As suspeitas foram confirmadas depois de um teste de ADN, que levou a um reencontro emocionante entre mãe e filho, 30 anos depois.
“Conheço as árvores, pedras, vacas e até onde a estrada vira e onde a água escorre. A minha mãe chorou mal falei ao telefone. Depois da videochamada, reconheci-a imediatamente. A minha mãe e eu temos os mesmos lábios, temos os mesmos dentes”, afirmou Li numa entrevista a um jornal chinês.
Feng Lulu, 1989-2021
Em 1989, com apenas 22 meses de idade, Feng Lulu foi raptada enquanto brincava em frente a casa, em Xinxing, na China. A menina foi vendida a uma família que a criou como sua filha.
A família adotiva viria mais tarde a alegar que os pais de Lulu a tinham vendido, por não a poderem sustentar — o que era totalmente falso. Na realidade, os verdadeiros pais nunca tinham deixado de procurar a filha raptada.
Trinta anos passados, a All-China Women’s Federation, ONG que luta pelos direitos da mulher, soube da incansável busca dos pais por Feng Lulu, e ajudou-os a procurar a menina raptada num banco de dados estatísticos, conta a Newsweek.
ZAP // Ersanli
Feng Lulu regressa a casa, na aldeia chinesa de Xinxing
O banco de dados, que permitiu às autoridades ir estreitando as possibilidades, viria a apontar uma mulher, de nome Zhang Qianqian, como sendo possivelmente Lulu.
Em março de 2021, a policia contactou Zhang Qianqian e informou-a de que haveria uma grande probabilidade de que fosse na verdade uma menina raptada em 1989. No fim desse mês, o DNA confirmou: estava encontrava Feng Lulu.
Três dias mais tarde, após 32 longos anos de separação, Lulu reencontrou os pais — e conheceu os irmãos e irmãs mais novos, com quem nunca tinha estado.
Mao Yin, 1988-2019
Em 1988, Mao Yin tinha apenas dois anos de idade. Quando o pai o estava a trazer da creche para casa, Mao disse que estava com sede. Enquanto o pai pedia água à entrada de um hotel em Xian, na China, Mao foi raptado por uma mulher não identificada.
As investigações da polícia não produziram qualquer resposta em relação ao paradeiro da criança, mas os pais continuaram durante anos à sua procura.
A mãe despediu-se do emprego, deu entrevistas em televisões locais e distribuiu mais de 100.000 folhetos com a fotografia do filho.
A 10 de maio de 2020, no Dia da Mãe na China, mais de 30 anos após o desaparecimento do filho, os pais de Mao receberam a notícia que tanto esperavam: Yin tinha sido localizado.
Mao foi encontrado graças a uma denúncia sobre um homem que tinha comprado uma criança em Xian no fim dos anos 1980.
A polícia conseguiu usar uma fotografia do menino e criar uma simulação de como seria em adulto, e cruzar essa imagem numa base de dados do governo — que identificou um homem com aparência semelhante. Um teste de DNA confirmou que o homem era de facto Mao Yin.
Yin tinha sido vendido a um casal sem filhos por cerca de 850 euros e criado sob o nome de Gu Ningning, sem nunca saber que os pais tinham passado as últimas três décadas à sua procura.
A notícia do reencontro emocionante de Mao Yin com os pais biológicos foi amplamente divulgada na China e em todo o mundo.
O caso foi considerado um exemplo notável de como o avanço da tecnologia e os testes de DNA podem ajudar a resolver casos de pessoas desaparecidas.
Sun Wei, 1995-2015
Em 1995, Sun Wei, então com quatro anos, voltava para casa do jardim de infância, em Lianshan Yi, quando um estranho o atraiu com doces para uma carrinha e o raptou. É o cenário de muitos filmes de terror, mas aconteceu mesmo.
Sun foi levado para a cidade de Jieyang e vendido a um casal que lhe deu um novo nome e data de nascimento, mas nunca se esqueceu de que tinha sido raptado.
Os pais do menino denunciaram o sequestro à polícia, mas como não tinham fotos do filho, encontrá-lo parecia impossível.
No entanto, recusaram-se a desistir e começaram a procurar o filho por todo o país, na esperança de o encontrar. Infelizmente, as suas tentativas não tiveram sucesso, mas o pai do menino, Sun Zhenghua, registou o seu DNA numa base de dados governamental de pessoas desaparecidas.
CEN
Reencontro de Sun Wei com os pais
Quando tinha 14 anos, Wei deixou a escola para começar a trabalhar em Shenzhen, onde um amigo o convenceu a registar o DNA na mesma base de dados — o que, conta o Yahoo News, permitiu rapidamente às autoridades encontrar o seu pai.
A família reuniu-se finalmente em outubro de 2015, mais de 20 anos depois do rapto de Sun Wei.
Carlina White, 1987-2011
Em 1987, Carlina White, então com apenas 19 dias de idade, foi sequestrada num hospital em Nova Iorque por uma mulher, Ann Pettway, que se fez passar por uma enfermeira.
Pettway criou Carlina como se fosse sua filha, sob o nome de Nejdra Nance. Mas, à medida que crescia, Carlina começou a achar estranha a falta de semelhança entre si e a “mãe”.
As suspeitas da jovem avolumaram-se quando a “mãe” não foi capaz de lhe mostrar uma cópia da sua certidão de nascimento ou cartão da Segurança Social. Pettway disse-lhe então que a “filha” lhe tinha sido entregue por uma mulher dependente de drogas.
Em dezembro de 2010, Carlina recorreu ao Centro Nacional de Crianças Desaparecidas e Exploradas, e, para grande surpresa, encontrou nas suas pesquisas fotografias de uma bebé desaparecida que eram muito parecidas com as suas fotos de criança.
O CNCDE colocou então em contacto Carlina e a mãe, Joy White, que se reencontraram em janeiro de 2011 — 23 anos depois do rapto da bebé.
Pettway entregou-se à polícia poucos dias depois, tendo sido julgada e condenada a 12 anos de prisão.
Há um ponto comum nestas histórias: os familiares nunca deixaram de procurar os filhos desaparecidos. Nunca desistiram.
Também Filomena Teixeira nunca deixou de procurar Rui Pedro, que daqui a uns dias terá desaparecido há 25 anos. Tal como Kate McCann, que nunca perdeu a esperança de que um dia um milagre lhe bata à porta — por muito improvável que seja esse milagre.
As mães nunca perdem a esperança.
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